quarta-feira, 7 de maio de 2008

Vitor Sobral faz jantar degustação no Rio: toucinho e azeitona de sobremesa

por Rebecca Lockwood e Roberto Cabot

Reservamos uma mesa no Olympe com três semanas de antecedência. Saímos de casa um pouco tarde, no dia 5 de maio, pois esperávamos a confirmação ou desistência do casal que nos acompanharia. Para nós não havia dúvida. Não íamos perder esta deliciosa ocasião de degustar a arte do chef Vitor Sobral.

Sobral é um dos grandes chefs de Portugal, de Terreiro do Paço, em Lisboa. E prometia um jantar inesquecível no restaurante do chef Claude Troisgros, no Jardim Botânico. Era em homenagem à vinda da família real portuguesa, ao Rio de Janeiro, há duzentos anos.

É como no mundo das artes plásticas, mas sendo arte culinária, os clientes esperavam ser surpreendidos pelos sentidos. Dava para ver como o chef levava o assunto a sério. Como se ele estivesse em uma exposição, em sua vernissage, Sobral ia de mesa em mesa, receber as pessoas, se apresentar e explicar os pratos. O restaurante estava cheio. Até a chef Flavia Quaresma estava lá. Troisgros era o curador.

O menu era composto de cinco pratos. Primeiro, chegaram ostras, purê de berinjela assada e vinagrete de vôngole. A mistura das ostras com a berinjela foi uma surpresa que deixava um “aprés goût” fresco e delicado. Era um purê de berinjela, como o caviar francês, mas sem os temperos fortes. Estava suave para não conflitar com o sabor das ostras que estavam perfeitas. Claude, certamente, possui os melhores fornecedores.

As ostras sugestivas...

A sopa de peixe era muito delicada. Veio um sashimi de peixe, enrolado como um rolinho primavera, recheado de temperos. Era uma ilha de peixe, com um mar de caldo de tomate sendo servido morno, a seguir. Coisa de português com o imaginário das navegações em evidência.


Rebecca provando a sopa de peixe do chef

Como todo bom lusitano, veio em seguida o lombo de bacalhau, cozido em azeite, com couves salteadas, fricasse e têmpura. O peixe estava macio e suculento. Só falhou o têmpura que estava com a consistência um pouco difícil. Certamente o chef foi vítima da diferença da qualidade dos ingredientes no Brasil, como a farinha ou a temperatura do óleo, por exemplo.

As recomendações de vinho eram ótimas. Apesar de a mesa vizinha reclamar com o chef porque o sommelier da casa não tinha proposto um vinho português entre as recomendações. Um comentário um pouco fora do lugar, pois as sugestões eram ótimas. Na cozinha contemporânea, ter que ter o vinho português porque o chef é português é um pouco clichê. Não concordamos. Nosso vinho era um carmenere chileno, jovem e bem constituído, acompanhando deliciosamente tanto ao bacalhau quanto à carne.

Cabot adorou o bacalhau

Depois do bacalhau, veio uma rabada de vaca dentro de uma folha de arroz, com chips de quiabo, abobrinha e creme de goiaba. Todo o menu tinha um filete asiático. Afinal, a relação dos portugueses com a Ásia começou muito tempo atrás quando inauguraram a rota comercial com as índias.

Por fim, a sobremesa que foi o grande delírio da noite. Era um pudim de abade de priscos, sopa fria de tomate e maracujá, salada de azeitonas negras, mel e limão. O pudim é típico de Braga, sendo uma das poucas receitas que o Abade de Priscos transmitiu para o público. Feito de toucinho, casou muito bem com o molho de maracujá e o gosto da oliva que ficava no paladar. Já tínhamos ouvido falar da azeitona em sobremesas mas nunca provamos antes.... uma explosão de fogos de artifícios.... Pedimos até um bis que nos foi graciosamente concedido.


A sobremesa foi uma explosão de fogos de artifícios

É importantíssimo descrevermos a sensação boa que sentimos após o jantar. Os sabores voltavam como recordações à nossa mente. Nenhum prato tinha gordura, não tinha leite, nem creme de leite ou queijo. Era muito leve e deixou uma lembrança formidável. Sem falar na quantidade que foi espetacular. Parabéns ao chef! E finalmente queremos agradecer ao Claude por organizar estas degustações (exposições). Não perderemos a próxima!

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